segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Literatura ajuda doentes a responderem melhor a tratamentos, diz pesquisa

Estudo aponta que pacientes que leem obras de ficção elevam autoestima e conhecimento sobre si mesmos


A leitura proporciona muitos benefícios, como o acesso a novos conhecimentos e o estímulo à criatividade. Agora, além desses ganhos já conhecidos, outra vantagem do hábito acaba de ser constatada por um estudo realizado na Suécia: a literatura tem o poder de ajudar na recuperação de pessoas afastadas do trabalho por problemas físicos. O grupo responsável pelo estudo acredita que o efeito tenha relação com a elevação da autoestima e da confiança em quem lê. 
Lena Martensson, terapeuta ocupacional da Universidade de Göteborg e uma das autoras da investigação, explica que o tema a interessava havia alguns anos. “Pesquisas anteriores afirmam que os benefícios da leitura têm relação com o conteúdo dos livros. Do ponto de vista da ciência ocupacional, eu estava interessada nos possíveis ganhos de ler ficção como uma ocupação diária”, conta.
No estudo, Martensson e sua colega Cecilia Pettersson acompanharam oito mulheres que adoeceram e tiraram licença médica por períodos que variaram de quatro a 36 meses. Em entrevistas aprofundadas, todas as participantes apontaram os livros como grandes companheiros que as ajudaram no processo de recuperação e a retomar as atividades cotidianas. 
A leitura também contribuiu para uma autoimagem positiva e maior autoconhecimento por meio da experiência subjetiva, notaram as responsáveis pela investigação. “A leitura de ficção é uma atividade significativa que as mulheres doentes iniciaram por conta própria, o que reforçou sua capacidade de participar em eventos diários”, diz Martensson.

Tema certo Algo que chamou a atenção das autoras foi a procura por histórias que refletiam a situação que as pacientes viviam naquele momento, o que permitia uma forte identificação com os textos. “A maioria procurou livros que elas acreditavam previamente que lhes fariam bem. Elas selecionaram obras que as faziam lembrar-se da própria situação”, ressalta a cientista.

As participantes também disseram buscar obras pelo simples prazer estético e como uma forma de esquecer a doença momentaneamente. Mas elas evitavam textos muito densos. “Era importante que a linguagem não fizesse grandes exigências quanto à capacidade de concentração.”

Todas as voluntárias sempre tiveram interesse pela leitura. No entanto, assim que adoeceram, o hábito foi deixado um pouco de lado. Aos poucos, as letras voltaram a fazer parte da rotina e se tornaram cada vez mais presentes conforme as mulheres se recuperavam. “Além disso, à medida que, gradualmente, se sentiam melhor, elas retornavam para o tipo de literatura que tinham lido no passado”, acrescenta Petterson.

Livros podem ser refúgio

Para pesquisadores brasileiros que não participaram do estudo sueco, o resultado do trabalho traz informações valiosas sobre o efeito da literatura na vida das pessoas. Diva Maciel, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), acredita que o estudo mostra como a literatura pode preencher a falta de um refúgio, algo necessário em um período de repouso. “É uma forma muito interessante de ocupar o tempo. Com o prazer da leitura, essas mulheres conseguem se identificar e preencher um espaço, algo que ajudará na recuperação. Os livros são um recurso que pode ser comparado a outros, como os filmes ou a música, por exemplo”, aponta.

“Para Roberval de Souza, coordenador e professor do curso de psicologia do Centro Universitário Iesb, seja qual for o tema do livro buscado pelos pacientes, ele pode auxiliar quem está em recuperação. “O estudo se assemelha ao que já ocorre com as crianças hospitalizadas. No momento em que elas têm a oportunidade de dar continuidade aos estudos, concomitantemente ao tratamento, elas desenvolvem melhores habilidades de resiliência à própria doença. Já é sabido que a leitura, seja ficção ou não, nos ajuda a construir um repertório simbólico e imaginário que será fundamental para nossa convivência social”, destaca. “Nossa autoestima é moldada a partir de um somatório de vínculos afetivos que construímos desde o início da vida. Sendo assim, a leitura funciona como uma ferramenta para nos ajudar a elaborar novas percepções de como podemos nos portar no mundo e na sociedade”, diz o psicólogo.
(fonte Estado de Minas) 

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