(descrição imagem: Victor Mendonça)
Para
o filósofo Karl Jaspers, a comunicação liberta as pessoas. Ficamos livres de
nossas amarras à medida que temos contato com os outros. Mas e no caso do
asperger? A principal limitação da síndrome está no convívio social. Não cabe
apontar aspies ou neurotípicos como responsáveis por essa dificuldade. O que
acontece é que temos maneiras diferentes de perceber o mundo. Essa falta de
entendimento gera conflitos e isolamento. Eu já experimentei essas situações.
Posso afirmar que não são nada agradáveis.
O
amadurecimento veio aos poucos. Aprendi a me relacionar melhor com as pessoas.
Amizades sólidas surgiram. Por mais surpreendente que fosse o meu progresso,
algumas lembranças ainda me machucavam. Inconscientemente, eu ainda possuía
minha autoestima abalada. Como se eu não merecesse tudo aquilo. Sei que muitos
aspies, como eu, já se feriram no convívio social. Todos temos características
adoráveis. Não precisamos (e nem merecemos) rastejar atrás de quem nos rejeita.
O segredo é ficar atento a quem abre as portas para nós.
Não
somos imunes a sentimentos contraditórios. Isso é típico do relacionamento
humano. Eu tenho um amigo que conheci numa reunião budista. Rapidamente nos
aproximamos. No começo, essa amizade me
causou certo incômodo. Era difícil para mim, com todos os meus problemas, ver
alguém com a personalidade aparentemente tão perfeita como a dele. Ele não parecia ter falhas. Era extremamente
inteligente e educado. Me tratava tão bem que aquilo começou a me incomodar.
Comecei a me questionar. Nós sempre nos demos muito bem. Mas um momento de
crise deflagrou algo que estava engasgado. Seria uma farsa aquele comportameto?
Fiquei
com raiva, chorei, escrevi mensagens desaforadas. Dediquei-me à recitação do
mantra “nammyohorengekyo”. Tudo na busca por equilíbrio e maior entendimento
das coisas. Refleti muito antes de recebê-lo em minha casa. Pensei nos momentos
bons que dividimos, no quanto aprendemos um com o outro. Quando ele chegou à
minha casa, a conversa fluiu e eu consegui enxergar a visão dele sem qualquer
vestígio de brigas. Foi um diálogo que refletiu o tanto que gostamos e
respeitamos um ao outro. Mas também me
fez repensar algumas coisas. Ampliou nossos horizontes e fortaleceu nossa
amizade. Bons amigos não são apenas companheiros. Eles nos fazem crescer.
Esse
acontecimento reforça minha teoria do poder do diálogo. A abertura e
flexibilidade devem vir de ambos os lados. É a partir desses elementos que forjamos
o nosso caráter. Assim, pude desfrutar a felicidade conquistada no presente. O
passado não me trava mais. O asperger precisa encontrar um meio de se
expressar, de ouvir e ser ouvido!
*Victor Mendonça, 18 anos, asperger
diagnosticado aos 11, é escritor, palestrante e estudante de jornalismo pelo
UniBH. Escreve para o Tudo Bem Ser Diferente com a coluna Mundo Asperger.
Mantém coluna semanal homônima na WebrádioUniBH, com veiculação às terças
feiras. É apresentador, ao lado da jornalista Selma Sueli Silva, do Canal Mundo
Asperger no Youtube, cujo link é https://www.youtube.com/channel/UCqF3BLbPXpNGNgsV3oJvDlw. No
jornalismo impresso, atua como colunista e repórter da Revista “Estrada da
Serra”, publicação da Manduruvá Editora. Autor do livro “Outro Olhar - Reflexões
de um Autista”. mundoaspergervictormendonca@gmail.com https://www.facebook.com/omundoasperger?fref=ts
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