A maioria das bibliotecas brasileiras ainda não possui acessibilidade em todas as dimensões para atender pessoas com diferentes deficiências – visual, auditiva, intelectual, física, múltipla e surdocegueira. Entre os principais desafios estão a capacitação dos profissionais, a produção de acervo, a formação de leitores e de público frequentador de bibliotecas.
“Neste cenário, os profissionais que trabalham na formação de leitores têm um papel importante no fortalecimento de uma rede de atividades articuladas para que a biblioteca esteja preparada para receber todas as pessoas. É preciso aprender com as diferenças e compartilhar experiências”, afirma Carla Mauch, coordenadora geral da ONG Mais Diferenças, responsável pela implementação do Projeto Acessibilidade em Bibliotecas Públicas, por meio de Convênio o Ministério da Cultura, que foi concluído este ano.
A data de 21 de setembro foi escolhida como Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, tempo de reflexão e busca de novos caminhos na luta pela inclusão social. E para discutir a inclusão no âmbito das bibliotecas, Mauch estará em Belo Horizonte nos dias 28 e 29 de setembro para ministrar o curso “No Lugar da Leitura, a Biblioteca”, que terá como público professores, bibliotecários, auxiliares de biblioteca, mediadores de leitura e agentes culturais.
O curso será realizado de 13h30 às 18h30, naBiblioteca Infantil e Juvenil de Belo Horizonte (Centro de Referência da Juventude - Praça da Estação, s/nº). O projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte - Fundação Municipal de Cultura.
Segundo Carla Mauch, apesar de todos os desafios, também há o que comemorar. “A acessibilidade está em pauta, mobiliza hoje governos, universidades, entidades, as bibliotecas e seus profissionais. Há uma preocupação em realizar ações de inclusão e temos um marco legal avançado, com artigos que tratam da democratização do acesso ao livro, à leitura e à literatura para as pessoas com deficiência”, afirma.
A coordenadora da Mais Diferenças cita ainda a Lei Brasileira de Inclusão, que determina a produção de livros em formato acessível. ‘”Tudo isso, aliado à ampliação da política de educação inclusiva está gerando um movimento, mesmo que lento, de transformação”, explica.
Carla Mauch vê os formadores de leitores como importantes agentes dessa transformação, no contato direto com este público, com desenvolvimento e compartilhamento de experiências. “A formação de leitores é um processo que leva tempo. Se hoje temos dificuldade em formar leitores de maneira geral, em relação às pessoas com deficiência, o desafio é muito maior”
Como principais ganhos do Projeto Acessibilidade em Bibliotecas Públicas, iniciativa do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas do Ministério da Cultura, Mauch cita o envolvimento e capacitação dos profissionais, a disseminação do conhecimento, o desenvolvimento do acervo em múltiplos formatos, a sistematização de informações e a criação de um manual de acessibilidade. “Por meio do projeto, foi desenvolvido um trabalho abrangente em todas as regiões do Brasil, estendendo o conhecimento e as experiências das bibliotecas participantes para as demais bibliotecas”.
Bons exemplos
A Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais foi uma das dez bibliotecas brasileiras participantes do Projeto Acessibilidade em Bibliotecas Públicas. Por meio do projeto, a equipe da instituição recebeu capacitação e a biblioteca foi equipada com livros de literatura, jogos e brinquedos acessíveis, além de tecnologia assistiva.
“O projeto significou principalmente uma mudança atitudinal na instituição. Conseguimos estender nosso olhar para além da deficiência visual, onde já temos um trabalho consolidado, construindo uma nova postura em relação a outros tipos de deficiência. Recebemos capacitação em Libras, a Língua Brasileira de Sinais, uso de tecnologias assistivas, oficinas para ações inclusivas, curso de braille para a equipe de catalogadores, entre outros”, explica a diretora da Biblioteca, Alessandra Gino.
Segundo Alessandra, hoje o setor Braille desenvolve diversas atividades inclusivas, como Clube da Leitura, do Xadrez, exposições, palestras, e grupos de estudo. A biblioteca realiza ainda algumas ações para pessoas com deficiência auditiva, como contação de histórias, palestras e cursos.
Em Lagoa Santa, a Biblioteca Pública Municipal desenvolve o projeto “O Essencial é invisível aos olhos”, que recebeu em junho deste ano o prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) como melhor programa de incentivo à leitura junto a crianças e jovens de todo o Brasil. O projeto, idealizado pelas bibliotecárias Tatiana Brandão e Paula Mariano, trabalha a inclusão por meio de roda de leitura, hora da história, atividades de inclusão digital e leitura acessível orientada.
O trabalho da biblioteca, voltado para pessoas com deficiência visual e desenvolvido desde 2011, envolve crianças, mas também jovens, adultos e idosos. “Além de empréstimos de livros acessíveis em áudio, braille e em fonte ampliada, promovemos atividades de acordo com necessidades das pessoas, como as de inclusão digital e passeios culturais. Funcionamos como um verdadeiro espaço de convivência e interação”, conta Tatiana.
Em Uberaba, a Fundação Cultural do município desenvolve ações de inclusão desde 2014. “Começamos com seminários para discutir o assunto, com a participação de educadores da universidade e representantes de várias instituições do setor, como o Instituto dos Cegos, Centro de Orientação e Pesquisa em Educação Especial, Escola para Surdos Dulce de Oliveira, APAE, entre outros”, explica Ivanilda Barbosa, chefe do departamento de bibliotecas da Fundação.
Em parceria com estas entidades, a Fundação passou a realizar diversos eventos, como o Cine Inclusão. “As crianças assistem a filmes, conhecem a biblioteca e discutimos o tema”. Além de cinema, crianças com deficiência participam também de visitas a exposições, sessões de leitura e contação de histórias. “Tem sido uma experiência muito rica para todos, crianças, pedagogos e demais frequentadores da biblioteca, pelo aprendizado e convivência na diversidade”, afirma Ivanilda.
Curso No Lugar da Leitura a Biblioteca
Palestrante:
Carla Mauch é pedagoga, coordenadora geral da ONG Mais Diferenças, empreendedora social da Ashoka, líder da Rede de Inclusão Social do Centro de Excelência em Tecnologia e Inovação em Benefício das Pessoas com Deficiência da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência e membro do Conselho Consultivo da Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPE-SP). Está à frente do Projeto Acessibilidade em Bibliotecas Públicas, iniciativa do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas do Ministério da Cultura.
Dias 28 e 29 de setembro – 13h30 às 18h30
Biblioteca Infantil e Juvenil de Belo Horizonte
Centro de Referência da Juventude - Praça da Estação, s/nº.
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