Neste texto escrito por Jairo Marques, em seu blog "Assim como você", uma bem humorada reflexão sobre o respeito à dignidade e a autonomia de um portador de necessidades especiais:
"Soltinho
Quando mais intimidade um ‘serumano’ que usa cadeira de rodas tem com uma pessoa, menos ele consegue tocar suas rodas livremente.
Como diz a Valéria, do Zorra Total, nossos acompanhantes ficam sempre no “cutuco” para ajudar quando a gente faz o mínimo movimento...
Diversas vezes já escrevi aqui, mas repito, não é um lance de “não gostar” de ser empurrado, é que eu também quero ir sozinho, pai amado!
Durante minhas férias, lá nas “Trelagoa”, aos finais de tarde ia com a mama passear no calçadão da lagoa maior (sim, é um luxo ). Era a minha chance de mexer o esqueleto, de tentar queimar as calorias da pança, mas tá que a dona Marli deixava...
“Mãe, eu vou sozinho, pode deixar!”
“Não, menino, aqui é subida, eu ajudo....”
“Mãe, aqui eu vou...”
“Não, tem muito buraco....”
(descrição imagem: cadeirante, circulando com autonomia, na pista de pedestres no entorno de uma lagoa)
Quando enfim ela “me soltava”, não demoravam quinze minutos de “rodada” e lá vinha:
“Você já tá muito cansado, deixa que eu te empurro.”
Obviamente que o povo quer facilitar a nossa vida, quer dar mais conforto, mas vou repetir isso até a guela ficar seca: não é sempre que a gente precisa de “descansar os braços”, não é sempre que a gente tá fazendo “muito esforço”, não é sempre que a gente precisa de uma “caroninha”, não é sempre que a gente “quer uma mãozinha”.
(descrição imagem: cadeirante, circulando com autonomia, na pista de pedestres no entorno de uma lagoa)
Quando você vai ao ‘xopim’, não gosta de ficar zanzando sem rumo certo olhando um trequim aqui outro ali? Então, comigo é o mesmo que rola, acontece que, quando a mulher tá comigo, ela tá sempre me empurrando e acabo indo só pra onde ela também vai..
“Deixa que eu toco a cadeira sozinho, meu bem...”
Não passam nem cinco minutos, lá está a mulher no “cutuco”...
Mesmo o pessoal que tem “cadeira elétrica” o povo vive achando que é preciso dar uma ajudinha de vez em quando....
Bem, o lance é repetir aqui a máxima do Arnaldo Cézar Coelho: “a regra é claaaara”, zente! Quando temos necessidade de um apoio, a gente pede, fechô?! "
Nenhum comentário:
Postar um comentário