Novo curso a distância, oferecido pela PUC Minas, busca melhorar a comunicação entre surdos e quem escuta
(descrição da foto: imagem de camera de vídeo focalizando deficiente auditivo, para ilustrar "foram 24 videos com situações em que os surdos têm dificuldades de se comunicar - crédito foto: Frederico Haikal)
"Uma compra no supermercado, reunião na empresa e encontro na escola são algumas situações dramatizadas para as filmagens de 24 vídeos desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar de professores e técnicos da PUC Minas. O material faz parte da nova disciplina oferecida pela universidade, a Língua Brasileira de Sinais (Libras), na modalidade a distância. O curso, que começa em agosto, oferece 500 vagas, 400 delas já preenchidas.
A ideia, como destaca a coordenadora do Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) da PUC Minas, a professora Maria do Carmo Menicucci, é propagar a inclusão do deficiente auditivo na sociedade, possibilitando o conhecimento básico dessa língua e capacitando o aluno para comunicações do dia a dia.
A universidade tem hoje 199 alunos deficientes, cerca de 40 deles surdos ou com alguma deficiência auditiva. "A disciplina é uma oportunidade de conhecer o processo comunicativo da pessoa surda", disse Maria do Carmo. Ela explica que a PUC já tem a disciplina de forma presencial, mas é uma das universidades pioneiras no país a oferecer o curso virtualmente.
Uma vez que é aberta a qualquer interessado que esteja cursando (ou tenha concluído) o Ensino Superior, a disciplina pode ser feita de forma isolada. "O curso não formará professores, mas será um aliado na formação desses profissionais e também de quem está nas salas de aula", destaca a professora.
Com investimentos de R$ 230 mil, o conjunto de 24 vídeos, com seis minutos de duração cada, reproduz situações cotidianas como, por exemplo, o ato de matricular-se numa escola, ver a previsão do tempo e a entrega de currículo no setor de recursos humanos de uma empresa. Situações que podem parecer simples para pessoas sem problemas de audição, mas que para um surdo são dificultadas por falhas na comunicação.
Para a produção do material, como ressalta a coordenadora da área de vídeo, Iara Franco, foram escolhidos atores surdos, tornando a situação mais real. A escolha de atores com deficiência partiu dos responsáveis pela disciplina, os professores (que são deficientes auditivos) Marcos Antônio de Souza Junior e Rodrigo Rocha Malta, ambos membros da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis). Foi um ano de trabalho exaustivo, sendo dois meses na elaboração das argumentações e oito meses para criar os roteiros, selecionar os atores, produzir e, finalmente, gravar.
O professor Marcos Antônio, que perdeu a audição aos 6 anos por causa de meningite, ressalta que as novas tecnologias adotadas na disciplina a distância de Libras contam com a realidade aumentada. Por este recurso, o aluno pode visualizar a linguagem de sinais por meio de uma webcam focalizada sobre um marcador, o que possibilita a visualização do alfabeto, por exemplo, em terceira dimensão. "Na linguagem de sinais, a precisão dos movimentos é fundamental para a compreensão", observa o professor.
Marcos Antônio diz que o material, que tem dicas sobre o alfabeto, vai agilizar muito o aprendizado do aluno.
Ele destaca que o trabalho tem abordagens comunicativas, expressões contextualizadas e não letra por letra ou fala por fala. Formado em Psicologia pela PUC, ele conta que só aprendeu a linguagem de sinais aos 21 anos. "Na época, por orientação de um médico, meus pais acreditavam que se eu aprendesse a linguagem de sinais acabaria por me acomodar e não conseguiria entender a leitura labial", diz o professor. No entanto ele entende perfeitamente esse tipo de leitura, tem uma vida normal e além de aulas dá palestras." (Fonte: Jornal Hoje em Dia, Minas, Educação, pag, 23, matéria Jaqueline da Mata)
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