Ele alimenta o sucesso no teatro, alegra o público do rádio e oferece um DVD com a performance cômica
(Descrição da foto: o humorista Geraldo Magela/ foto Bruno Mayer)
“Um cego de olho no futuro”. Assim se define o humorista mineiro Geraldo Magela, mais conhecido como Ceguinho. A definição dá nome ao livro que ele está escrevendo sobre a própria trajetória. A data de publicação ainda não está definida. “Comecei a escrever há cinco anos, mas está parado por conta da agenda de shows e da própria dificuldade de se fazer uma autobiografia. Quando estou escrevendo, me lembro de coisas ruins que aconteceram, e acabo me emocionando. Quero contar algumas dificuldades, mas com muita leveza. Desejo que as pessoas possam ler e se emocionar, mas, além disso, que possam rir muito”.Ele é o dono do bordão “Ceguinho é a mãe”, que nomeia uma das peças dele, há 15 anos cartaz da 38ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, assim como “Comédia di Buteco no Teatro”, projeto de Magela no estilo “stand-up” que conta com os humoristas Cristiano Junqueira, Nayla Brizard, Dudu (98 FM), Thiago Carmona, Kaquinho Big Dog e Mágico Renner, que se revezam em apresentações também em bares e restaurante da cidade.
“Tenho uma preocupação grande com o meu elenco, pois, com a moda do “stand-up”, alguns comediantes, principalmente em São Paulo, começaram a apelar muito e a ser agressivos. Me preocupo em não humilhar as pessoas e peço para o elenco evitar alguns assuntos. Acredito que as pessoas têm que rir de nós, e não de alguém que foi assistir”.
O comediante cumpre intensa rotina. Além do teatro, Magela faz parte do programa “Grafite”, da rádio 98 FM. A cada 15 dias, viaja para gravar o quadro “Escolinha do Gugu”, da Rede Record, ao lado da comediante mineira Cida Mendes. “Tem dia que saio de um teatro e vou direto para o outro. Estou cansado, mas muito feliz. Janeiro e fevereiro são os meses com mais público, e esse é o momento para termos um retorno do que fazemos”.
Ele também está na internet e mantém uma página no twitter (@oceguinho). “Eu mesmo posto coisas lá, através de um programa de voz, porque, com poucos caracteres, não dá para dizer nada. As pessoas mandam perguntas, eu gravo a resposta e posto lá. Temos que acompanhar a tecnologia e o que acontece no mundo”.
Magela brinca com a deficiência visual de forma leve e esclarecedora. Nos shows que realiza, aborda situações embaraçosas, vividas diariamente por uma pessoa com deficiência visual e por quem tenta ajudá-lo, mas esse não é o único foco do artista. “Por conta da falta de informação, as pessoas nos tratam de forma muito engraçada. Muitas pessoas me perguntam se eu sou cego total, e acabo dizendo: ‘Não, só até às 18 horas; depois eu sou motorista de ônibus. Como todo mundo já passou por uma situação assim, o público acaba rindo. Mas o espetáculo contém mais situações da vida de todos, como aventuras em uma viagem, serviços de tele mensagem, situações da intimidade. O roteiro sempre se renova. Quem for em um dia vai ver um espetáculo diferente no outro. No fim, meu show acaba sendo uma palestra motivacional, pois falo do ser humano”, conta ele, que também faz apresentações em empresas.
Além dos espetáculos em cartaz, Geraldo Magela mantém outras duas montagens: “Chutando o Balde” e “O Melhor do Ceguinho”. Tem também um DVD.
Ele passou por vários meios de comunicação da capital. O rádio é sempre uma paixão. “Desde pequeno sou muito brincalhão e sempre sonhei fazer radio, mas, na época, era difícil, porque as pessoas não sabiam do potencial dos cegos, só viam as limitações, e de uma maneira equivocada. Nas lojas nas quais trabalhei, anunciava os produtos com imitações de vozes de personalidades. Minha paixão sempre foi a locução. Cheguei até a vender bilhete de loteria”.
A vida como humorista começou no rádio, após vencer um concurso no programa de Aldair Pinto. O prêmio era uma lata de café: “Não estava interessado no prêmio, mas na oportunidade de mostrar o meu talento”. Magela participou do programa fazendo algumas imitações e depois disso passou a ter um programa próprio em emissoras – Inconfidência, Capital e Itatiaia.
Das rádios à TV. Na primeira experiência, na Rede Minas, apresentou o programa “Rancho Fundo”, espécie de rádio na TV.
No teatro, o espetáculo de estreia foi “Cegos, mancos e loucos”, ao lado do comediante Kaquinho Big Dog (que é deficiente físico). “Eu era o cego (ainda sou, na verdade). Kaquinho era o manco e os loucos eram os que compravam ingressos para nos assistir”.
Magela ressalta que, além de divertir os espectadores, seu trabalho acaba ajudando a outros deficientes visuais. “Depois que comecei a aparecer na TV, muitos cegos já me agradeceram e outras pessoas me disseram que se conscientizaram e aprenderam a lidar com um deficiente visual”, registra Magela, que não pensa em parar tão cedo. “Enquanto estiver lúcido, quero continuar trabalhando”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário