segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Vida sexual ativa e intensa é realidade para cadeirantes

Namoro da Miss Bumbum 2013 causou polêmica nas redes sociais

Preconceito. Dai Macedo, vencedora do concurso Miss Bumbum 2013, e seu namorado, Rafael Magalhães, foram criticados nas redes sociais


Se falar de sexo ainda é tabu, imagine, então, quando o assunto é a vida sexual de pessoas paraplégicas ou tetraplégicas. A falta de informação sobre o assunto e o preconceito de parte da população atingiram, na última semana, a modelo Dai Macedo, 26, eleita Miss Bumbum 2013 e namorada do advogado e cadeirante Rafael Magalhães, 31.“Coitado do cara, fica só no desejo, ela é muito sacana”, foi um dos comentários endereçados a ela nas redes sociais. “Ficamos espantados. Infelizmente, como na internet as identidades são omitidas, não hesitaram em nos ofender. Isso mostra que muitas pessoas ainda não estão habituadas com coisas que não seguem um padrão estabelecido”, comentou a modelo.
Pessoas que sofrem lesões medulares podem – e devem – ter vida sexual ativa. “A sexualidade é um dos padrões gerais de qualidade de vida adotados pela Organização Mundial de Saúde e um dos objetivos da reabilitação desses pacientes. Trabalhando a sexualidade, conseguimos uma melhora da vida como um todo: melhora a relação conjugal, a pessoa se sente mais disposta a fazer as terapias e adere mais aos tratamentos”, conta o fisiatra Carlos Souto dos Santos Filho, que trabalha na Rede de Reabilitação Lucy Montoro e é sexólogo.
DIFERENTE. Complicações físicas levam a sexualidade dos cadeirantes a ser mais complexa. “Em homens com lesão medular completa, normalmente há prejuízo da função de ereção. Consequentemente, ele terá prejuízos nas funções de orgasmo e ejaculação. Já quando a lesão medular é incompleta, os riscos de prejuízo das funções sexuais são menores”, explica o médico.
As lesões, contudo, não são uma sentença de “morte sexual”. “A medicina já conseguiu melhorar muito a qualidade da função sexual. Há medicações via oral e injetáveis e até as próteses penianas”, afirma Santos Filho.
O especialista explica ainda que, em mulheres, o que conta mais são as questões psicológicas. “O prejuízo maior é na parte do desejo sexual, nem tanto por condições ligadas à lesão na medula, mas por questões relacionadas à imagem que ela tem de si”.
Prostituição. Ao contrário da opinião de quem comentou a relação de Dai e Rafael, a vida sexual de cadeirantes não é só teoria. Prova disso é a demanda que esse público gera para as prostitutas de Belo Horizonte. “Atendemos muitos cadeirantes. Muitos passam de táxi no alto da (avenida) Afonso Pena, outros são levados pela família. São clientes como outro qualquer”, declara a presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais, Cida Vieira.
 Livro
Biografia. A deputada federal Mara Gabrilli, tetraplégica, lançou sua biografia no fim de 2013. O livro conta toda a vida da deputada, incluindo o acidente que a colocou na cadeira de rodas.
Hospital incentiva debate sobre o tema 
Talvez o mais importante para quem se encontra na difícil situação de redescobrir 
o próprio corpo é conversar sobre o assunto. No Complexo Hospitalar Imip,
 no Recife (PE), há um grupo de orientação sexual para paraplégicos e tetraplégicos.
O grupo faz encontros em que pacientes lesionados comparecem 
com seus respectivos parceiros – quando estão em relacionamento 
com alguém. Além de ajudar quem vai aos encontros, o grupo também 
contribui para o aumento do fluxo de informações acerca do tema.
“A cada encontro observamos uma quebra de tabus que são construídos pela 
sociedade e pelos próprios pacientes. É uma experiência muito 
interessante explicar, por exemplo, que o marido não vai machucar 
a esposa durante a relação. E vemos que os casais vão se reaproximando
aos poucos e voltando a se redescobrir”, revela a fisioterapeuta
Amanda Alcântara, coordenadora do grupo. 
Minientrevista


Mara Gabrilli - Deputada federal, 45, Tetraplégica desde os 18


descrição inagem: Mara Gabrilli que, na entrevista, conta que ainda é possível atingir o orgasmo

Em que momento você pensou em como ficaria a sua vida 

sexual após o acidente?


Eu pensei nisso logo que eu lembro de voltar a pensar.

 E não era curiosidade, era um pensamento com bastante preocupação.


Como foi a redescoberta do seu corpo? 

Ela ainda está acontecendo. Eu tenho momentos de espanto. É um
 corpo dinâmico, que às vezes alguém toca em algum lugar e eu tomo
 até um susto, porque eu descubro que aquele lugar é supersensível e
 que eu não sentia ele antes. Acho que uma descoberta bastante
 significativa pra mim foi quando comecei a ter orgasmos, e
 isso começou a aumentar de intensidade.


Como é sua vida sexual?

É muito diferente de antes do acidente? Ativa, saudável e 
intensa. Não é muito diferente de antes do acidente. Eu acho 
que as intensidades são as mesmas, e a principal diferença
é que eu não me mexo como antes. Eu acabei ficando mais
sensível em alguns lugares, até por pouca sensibilidade em
outros, e isso vai contrabalançando e acaba aguçando 
os sentidos, porque eu tenho uma necessidade maior de ver.

Você consegue ter orgasmos? 

São iguais a antes da lesão na medula? Eu consigo 
ter orgasmos, mas eles não são iguais. São bem diferentes,
 porém intensos, e se perpetuam de uma forma diferente
 e muito maior. Talvez, antes, eles tivessem mais impacto 
e acabassem mais rápido, e, agora, é um pouco diferente. 
Ele não tem um impacto, mas perpetua, e ele aumenta, não diminui.

(fonte: O Tempo)


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