Descrição imagem: A francesa Laetitia Rebord tem uma atrofia muscular e tenta encontrar pessoas que a ajudem a ter uma relação carnal
Muitas vezes vistos como crianças, eles buscam ajuda de terapeutas especializados em sexo
Grenoble, França. Em suas fantasias sexuais, ela é uma loira impetuosa e em boa forma, que domina seus parceiros. Porém, na vida real, ela é uma virgem que se locomove em uma cadeira de rodas e tem o corpo tocado apenas por cuidadores e médicos.
“Pessoas com deficiências são vistas como crianças”, afirmou a mulher na cadeira de rodas, Laetitia Rebord, 31. “E, inevitavelmente, crianças e sexo são duas coisas que não combinam”. Tradutora e professora, ela tem uma atrofia muscular espinhal genética que a deixou completamente paralisada, a não ser pelo dedão esquerdo e pelos músculos da face.
Rebord afirmou que possui sensações físicas agudas e já buscou relações sexuais com amigos de amigos e homens em sites de relacionamento, chegando até mesmo a procurar os serviços de acompanhantes. Porém, sua deficiência afastou muitos deles, e ela afirmou que está disposta a pagar para fazer sexo na Suíça ou na Alemanha, onde serviços de terapeutas sexuais são legalizados.
Histórias como a de Rebord estão longe de ser incomuns. Pessoas com deficiências encontram dificuldades para ter uma vida sexual ativa. Seus desejos muitas vezes são ignorados, e, embora a prostituição seja legalizada em muitos locais, raramente é permitido servir de intermediário entre o cliente e terapeutas sexuais.
DEBATE. A questão dos terapeutas sexuais veio à tona em março, depois que o Comitê Nacional de Ética, que aconselha o governo francês em relação a questões da área de saúde, publicou um relatório criticando a prática como um “uso antiético do corpo humano para propósitos comerciais”. O relatório, encomendado em 2011, foi aprovado pelas autoridades governamentais, incluindo Marie-Arlette Carlotti, ministra júnior, responsável por questões envolvendo pessoas com deficiências na França, que afirmou que a assistência sexual para deficientes é “uma forma de prostituição”.
Porém, alguns legisladores e associações de pessoas com deficiências físicas passaram a exigir a legalização do trabalho dos terapeutas sexuais. “O debate em torno da prostituição não é verdadeiro; os objetivos são distintos”, afirmou Pascale Ribes, fundadora do Grupo Deficiências e Sexualidade, uma associação que, desde 2011, defende a legalização da terapia sexual na França. “A assistência sexual permite que a pessoa com deficiências tenha acesso à sexualidade de forma satisfatória para se reconectar com o próprio corpo”, afirmou Ribes.
Sua associação faz lobby para conquistar uma mudança na lei e permitir que pessoas com deficiências, pais, amigos ou diretores de associações aprovadas intermedeiem encontros. Ela fala a respeito do “estresse sexual” de muitos dos 1,8 milhão de portadores de deficiências físicas na França em idade produtiva, especialmente no caso das mulheres.
Ajuda. Algumas pessoas precisam de assistência sexual para recuperar a libido após um acidente, conta Ribes. Outros casais com deficiências físicas querem ajuda para “compartilhar momentos de intimidade”. Muitos desejam explorar a sexualidade e reconquistar a autoconfiança, afirma. Boa parte dos terapeutas sexuais é composta por mulheres, diz Ribes, acrescentando que “isso dificulta ainda mais a vida de mulheres que buscam a ajuda”.
Porém, muitos portadores de deficiências físicas, incluindo Rebord, acreditam que têm o direito de recorrer à assistência sexual, um meio físico e psicológico de superar inibições e ganhar coragem para encontrar um parceiro.
Marcel Nuss, um pai com problemas físicos extremos que respira com a ajuda de um aparelho de respiração artificial, é autor do livro “I Want to Make Love” (Quero fazer amor, em tradução literal). Ele afirmou que suas experiências o convenceram a apoiar o uso de terapeutas sexuais. “O sexo ajuda os deficientes a recuperarem seu aspecto humano”, afirmou Nuss, que é dono de uma empresa de consultoria especializada em ajudar pessoas com limitações físicas.
(fonte: The New York Times)